quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Mostra de Música Contemporânea - 2ª edição

MOSTRA DE MÚSICA CONTEMPORÂNEA – 2ª EDIÇÃO

Na noite passada foi realizada, na Sala Luís Cosme da Casa de Cultura Mário Quintana, a 2ª edição da Mostra de Música Contemporânea em Porto Alegre, evento este organizado e idealizado por Cuca Medina, que contou com o apoio da equipe organizadora do Música de POA – Abel Roland, Alexandre Fritzen da Rocha, Felipe Faraco, Jakson Kreuz e Marcelo Villena.
No programa foram apresentadas as peças “Peça para violino, voz, piano e percussão” de Daniela Faria, com Mariana Krewer no violino, Cuca Medina como mezzo-soprano, Felipe K. Adami ao piano, Diego Silveira na percussão e regência de Abel Roland; a peça para piano “Inércia”, do compositor Jakson Kreuz, interpretada por Luís Fernando Rayo; a peça “Nyx”, do compositor Lauro Pecktor, interpretada por mim ao piano; a peça “Passacaglia” do compositor Otavio de Assis Brasil, também para piano, interpretada por Fernando Rauber Gonçalves; e para encerrar o programa a improvisação “Improvisação Espacial”, com Cuca Medina (mezzo-soprano) e Marcelo Villena (barítono).
Todas as peças apresentaram estéticas variadas, enriquecendo o programa. O repertório todo foi composto por peças inéditas, e todas as obras forma de compositores do meio musical porto-alegrense.
Espero que possamos prestigiar novas edições deste evento, e que estas obtenham o sucesso que foi observado na edição da noite passada.

Alexandre Fritzen da Rocha (membro da comissão de organização do Música de POA)
Porto Alegre, 11/12/2008.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Música de POA 2008 - 4° edição

Ontem foi a 4° edição do música de POA 2008. A temática da vez foi Imagem+Performance. Duas temáticas muito pouco contempladas nos concertos de música erudita e desafiadoras para os criadores.
Tivemos 5 obras apresentadas.
Para começar foram escolhidos os vídeos "Cat Man Do" e “Cat Let Me In", duas animações de Simon Tofield da Tandem Films com trilha sonora de Rodrigo Meine. Rodrigo apelidou o trabalho de "orquestração virtual". Emprega bancos digitais de samples (registros) de sons reais de instrumentos, de maneira que algum desavisado pode supor que ele teve que pagar uma nota para a orquestra. A orquestração deu um colorido diferenciado para o humor fino dos vídeos.
A segunda peça foi "Estudo sobre o escuro" de Ricardo Eizirik e Swami Silva. Uma criação conjunta. Swami é artista plástica e Ricardo compositor. Esperáva-se que a música fosse do Ricardo e o vídeo da Swami mas eles criaram tudo em parceria. Além desse fato raro conferimos uma integração bem resolvida, os músicos foram "regidos" pelas imagens do vídeo. Ricardo tocou percussão, Thales Silva flauta e Jefferson Colling violino.
Depois foi a vez da minha leitura musical dos poemas de Joelson Ramos: "Elegias Prozac + Anna". Os textos falam com certa ironia sobre a depressão. A música é composta para dois violões (sendo que um deles é afinado 1/4 de tom abaixo do normal). Os poemas que inspiraram a música podem ser declamados na hora ou escritos no programa para o público imaginar sua própria versão. Ontem eu fiz o papel de declamador. Os violões foram os do afinadíssimo dúo Nanã Pombo e Nativo Antônio Hoffmann.
Nativo voltou pro palco para interpretar a peça "Deselegâncias" de Felipe Faraco, que conta com a participação do "virador de páginas" Alexandre Fritzen da Rocha...pelo que eu sei, as bananas comidas no fim da peça não causaram nenhuma indigestão...
E o encerramento ficou por conta da Cuca Medina e o "Baú de Lenora", peça que combina as duas temáticas da noite. Nas palavras da Cuca: "Devaneios de uma cafetina morta, que habita tempo e local desconhecidos." A peça conta com a colaboração no processo de criação cênica de Melissa Dornelles e Patrícia Unyl. O vídeo foi feito por Cuca e Melissa Dornelles. Musicalmente nos deparamos com os diálogos dos dois lados de Cuca: a erudita e a popular. Alguém pode pensar que quando falo de popular falo do acordeón after-punk. Não. Falo da gestualidade vocal que me enche de saudades das referências musicais que compartilhamos.

Quem foi ontem à noite no Auditório Antônio Barbosa Lessa levou uma brisa de diversidade e poesia.

Marcelo Villena - membro da comissão organizadora

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Hoje: Música de POA - Imagem e Performance


Em breve os textos sobre as peças estarão disponíveis no site

sábado, 22 de novembro de 2008

V Contemporâneo-RS

Com grande participação do público encerra-se mais uma vez o Festival Contemporâneo-RS, evento anual que completou cinco anos de existência. Com obras de mais de 50 compositores e a participação de mais de 60 intérpretes e duas orquestras (Orquestra de Câmara da ULBRA e Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro), o evento realizou dez concertos em três semanas, sempre contando com a participação efetiva do público. Organizado pelo compositor Januibe Tejera e sua equipe, formada por Abel Roland, Daniel Moreira, Felipe Faraco, Gilberto Ribeiro Jr. e Ricardo Eizrick, o V Festival Contemporâneo-RS provou que há espaços e público para acolher a música erudita contemporânea, mostrando que o que realmente está faltando é o apoio do município, estado e nação para realizarmos nossa música.


Alexandre Fritzen da Rocha (membro da comissão de organização do Música de POA)
Porto Alegre, 22/11/2008.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Cartaz do Música de POA 2008 - 3ª Edição

Música de POA - Ano 2 - 3ª Edição

Música de POA – Ano 2 – 3ª edição

Com satisfação apresentamos na noite passada, 22 de outubro de 2008, a terceira edição do Música de POA 2008. O programa, composto por cinco peças, foi marcado pela multiplicidade estética. Com as temáticas música para voz e música de câmara, foram apresentadas as composições “Cantiga de Rede” de Marcelo Villena, “Ressonâncias” de Cuca Medina, “Vítima Habitual” de Felipe Faraco, “Homenagem à Lígia” de Rogério Tavares Constante, e “La Fé Del Durazno (A Fé do Pêssego)” de Germán Gras. O recital contou com a presença dos intérpretes Elisier Palhano Leme (clarinete), Pedro Ferreira Sperb (violão), Thales Silva (flauta), Lucas Alves (regência), além dos compositores-intérpretes Cuca Medina (voz: mezzo-soprano) e Marcelo Villena (voz: baixo). Também tive a oportunidade de participar como intérprete desta edição, executando três das peças apresentadas.

Uma platéia de aproximadamente trinta pessoas na noite passada pôde acompanhar mais uma edição de um projeto que a cada nova apresentação vem crescendo e tornando-se referência no meio musical erudito contemporâneo da cidade de Porto Alegre, o Música de POA. Foi possível conferir duas estréias, e mais três peças, formando um programa de cinco composições com estéticas bastante distintas. Foram estreadas as peças “Cantiga de Rede”, uma canção para voz e piano composta por Marcelo Villena, e interpretada pelo próprio compositor (voz: baixo) e por mim ao piano; e a peça “La Fé del Durazno (A Fé do Pêssego)” do argentino, mestrando em composição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Germán Gras, interpretada por Cuca Medina (voz: mezzo-soprano), Elisier Palhano Leme (clarinete), Thales Silva (flauta), por mim (piano) e regida por Lucas Alves. Também foram apresentadas as peças “Ressonâncias” de Cuca Medina, para voz, utilizando ressonâncias do piano, interpretada pela própria compositora; “Vítima Habitual” de Felipe Faraco, peça para piano e performance cênica, interpretada por mim ao piano; e a peça “Homenagem à Lígia” de Rogério Tavares Constante, composição para violão solo, interpretada pelo violonista Pedro Ferreira Sperb.
O evento foi filmado pela TV UFRGS e teve cobertura do programa Estação Cultura da emissora TVE.

Esta edição do Música de POA mostrou algo que observamos há anos no meio musical de Porto Alegre, mas que parece estar tendendo a uma mudança lenta e gradual: a pouca quantidade de intérpretes que executam música contemporânea e principalmente, música contemporânea do Rio Grande do Sul, e mais especificamente de Porto Alegre. O que acontece muitas vezes, é que os próprios compositores acabam tendo que executar as suas próprias peças, ou outros compositores executam peças de compositores amigos seus. Este concerto mostrou bem esta realidade, pois eu mesmo executei três das peças apresentadas na noite passada, sendo que, a princípio, ainda executaria uma quarta peça que acabou não sendo interpretada por falta de outros intérpretes. Contudo, acredito que esta realidade esteja sendo modificada no nosso cenário musical e o Música de POA está sendo um veículo eficaz para amenizar esta lacuna que observamos na música feita em nosso estado e em nossa cidade.

Alexandre Fritzen da Rocha (membro da comissão de organização do Música de POA)
Porto Alegre, 23/10/2008.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Grupo Avante! no Unimúsica 2008


O grupo Avante!, formado pelos compositores Bruno Alcalde, Bruno Angelo, Felipe Faraco, Leonardo Cardoso e Rafael de Oliveira, fará uma apresentação, no dia 3 de julho às 19 horas na Sala II do Salão de Atos da Ufrgs, como parte da programação do projeto Unimúsica 2008. No dia, serão interpretadas as peças Interferências para Sax, por Rodrigo Siervo, de Bruno Alcalde; Deselegâncias, por Nativo Hoffmann e Alexandre Fritzen da Rocha, de Felipe Faraco e Impressões sobre a Morte, por Cuca Medina, Felipe Adami e Marcelo Piraino, de Leonardo Cardoso. Na mesma noite também tocarão Julio 'Chumbinho' Herrlein e Cuca Medina.


Release da Apresentação:

O evento “Outros sons de Porto Alegre” foi elaborado pelo grupo Avante! - formado pelos compositores Bruno Alcalde, Bruno Angelo, Felipe Faraco, Leonardo Cardoso e Rafael de Oliveira, todos vinculados ao Instituto de Artes/UFRGS. O projeto representa um passo importante na consolidação do coletivo, que, apesar de sua curta existência, já pôde obter resultados expressivos nesta trajetória. Dentro deste panorama, o espetáculo integra a pauta atual do grupo, em que se pretende investir no aumento de visibilidade da música erudita contemporânea de Porto Alegre.

Contrariando o senso comum na suposição de que o consumo da música originada na academia estaria restrito a esta própria, esses músicos pretendem demonstrar a possibilidade de uma reconciliação das obras com o público. Dessa maneira, o título “Outros sons de Porto Alegre”, também, é uma provocação. Ao mesmo tempo em que chama a atenção para a diferença, pretende desmistificar a expressão musical através do próprio fenômeno sonoro.

Complementarmente, o espetáculo representa a fase atual de produção desses compositores. Após cerca de um ano de atividades, o desenvolvimento de seus integrantes já é marcante.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

MÚSICA DE POA - APRESENTAÇÂO

No segundo semestre de 2007 surgia o projeto MÚSICA DE POA, concebido por um grupo de jovens músicos porto-alegrenses e produzido pelos compositores Abel Roland e Bruno Ângelo.
Nos últimos 20 anos, houve várias iniciativas nesse sentido, buscando a divulgação da música contemporânea e sua aproximação com o público. O mais importante desses projetos foi Encontro de Compositores de Porto Alegre (ENCOMPOR), idealizado por o Bruno Kiefer e foi inaugurado em 1988, como uma homenagem póstuma ao compositor. Outras iniciativas importantes, nesse sentido, são o Projeto Bruno Kiefer, que perdurou durante alguns anos, na década de 1990, e o Contemporâneo-RS, um projeto realizado pelo esforço individual do compositor Januibe Tejera, que está em sua quinta edição e ganha força a cada ano, com participação de grandes instituições do estado, como a ULBRA, a OSPA e o Theatro São Pedro.
Esse tipo de projeto sempre teve grande receptividade pelo público porto-alegrense. Geralmente, as salas estão lotadas, como ocorreu nos dois concertos do MÚSICA DE POA de 2007, em que a Sala Luiz Cosme da Casa de Cultura Mario Quintana não foi suficiente para comportar o público presente, com ouvintes que ficaram em pé para apreciar a nova música erudita produzida na cidade.
O problema que freqüentemente encontra esse tipo de projeto é o conformismo e a falta de ousadia de administradores culturais, os quais partem de falsos pressupostos, ao crer que iniciativas como essas não teriam público. Uma das inúmeras provas em contrário, em nossa cidade, são os concertos da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro com estréia de música contemporânea, os quais chamam numeroso público ao teatro. No mundo inteiro, a música contemporânea tem cada vez maior quantidade de adeptos, entre músicos, produtores culturais e, principalmente, pela receptividade do público.
O interessante, neste tipo de iniciativa, é a interação entre compositor, intérprete e público. Todos se beneficiam, pois os compositores têm suas obras mais recentes divulgadas, os intérpretes estão em contato constante com novos meios técnicos e expressivos e os ouvintes têm acesso à diversidade da música atual, aos diferentes estilos e linguagens recentemente descobertas pelos artistas das novas gerações.
Em virtude de todos esses fatores, uma iniciativa com MÚSICA DE POA deve ser amplamente apoiada pela comunidade musical e divulgada pelos meios de comunicação para alcançar seu maior êxito: a permanência da pesquisa musical em diferentes níveis e seu compartilhamento social através de apresentações públicas. A pesquisa de novos meios e seu compartilhamento social estão na origem da necessidade humana de comunicação e é um dos mais importantes fatores que contribuem para a formação cultural de uma comunidade. Uma cidade do porte de Porto Alegre não poderia ficar fora disso.


Texto escrito por Fernando Lewis de Mattos, professor do curso de Música da UFRGS e compositor convidado nas duas edições do MPOA (Ano I e Ano II)

MÚSICA DE POA – ANO II

Quando analisamos o estado em que a música de concerto Porto-Alegrense se encontra, neste final de década em pleno século XXI, nos deparamos com uma situação aquém do esperado para uma cidade que teve tantos filhos musicais, naturais ou "adotivos", pródigos ou não com ela. A cidade de Ênio de Freitas, Araújo Vianna, Radamés Gnatalli, Armando Albuquerque, Luiz Cosme e Bruno Kiefer lembra de seu passado, majoritariamente, apenas com homenagens nas portas de alguns teatros, enquanto estes músicos provavelmente prefeririam ser lembrados dentro dos respectivos teatros, com suas músicas.
Ao refletirmos sobre isso pensamos com certo pesar do que será das gerações vindouras, se terão a chance de conhecer ou não esta fatia da cultura deixada às margens da população. Muitas vezes quando nos deparamos com esta situação esquecemos de pensar que ela está sendo cada vez mais agravada por outra coisa: os compositores que ainda vivem ou atuam na cidade e não são conhecidos.
Desta maneira, o Música de POA foi idealizado para tentar fazer com que não se perca esta oportunidade, de mostrar ao público o que está sendo escrito pelas pessoas que atuam nos dias de hoje na nossa cidade.
O Música de POA é um evento sem fins lucrativos, criado com o objetivo de divulgar a música de concerto escrita e interpretada por músicos atuantes em Porto Alegre. Após uma aceitação positiva de público nas duas apresentações da primeira edição, o evento chega à sua segunda edição com o intuito de ampliar os horizontes estéticos da música atual. Para isso, serão realizadas cinco apresentações durante o ano, com freqüência bimestral. As quatro primeiras apresentações serão temáticas, abordando desde formações musicais convencionais (música de câmara, música para voz, música solo, etc) até estilos pouco conhecidos ou trabalhados ainda hoje (música performática, música e imagem, etc). A quinta e última apresentação será um evento que unirá todas as apresentações temáticas, em uma noite.
O projeto vem contribuir para a vida cultural da cidade de Porto Alegre, em dois aspectos principais: a apresentação de músicas de compositores vivos que trabalham em Porto Alegre; e a encomenda de peças para serem estreadas nestes concertos. Para que todo este projeto funcione de maneira que compositores, intérpretes e público saiam satisfeitos com os resultados obtidos, foi criada uma equipe de cinco músicos para a organização e direção do evento.
Os músicos que compõem a direção/organização do evento são: Abel Roland, Alexandre Fritzen da Rocha, Felipe Faraco, Jakson Kreuz e Marcelo Villena.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Um fim para muitos começos.

Conversei com o Guilherme Darisbo no que descobri ser a última apresentação do Projeto Antena (ao menos por algum tempo). Por um lado é triste ver o fim de um grupo tão presente na cena musical de Porto Alegre. Ainda assim, tenho certeza que os integrantes vão continuar fazendo barulho por aí. Escrevi esta nota rápida por falta de tempo, em diferentes circunstâncias, acho que eles mereceriam muito mais. Vamos esperar para ver que novidades este fim vai trazer.

Para ver a despedida deles, é só entrar no site do Projeto Antena.



Felipe Faraco

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Cartaz: Música de PoA - segunda edição



Em breve estarão circulando os flyers e cartazes da segunda edição do Música de PoA. O evento, de periodicidade bimestral, tem a primeira apresentação marcada para o dia 28 de maio (semana que vem!). Comparecem!

Abraço,

Felipe.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Reflexões sobre educação musical nas escolas

O ponto de partida deste texto é uma discussão sobre educação musical que tive há uns anos atrás com um músico amigo. Na ocasião ele me assinalou o que considerava o maior defeito dos métodos empregados para desenvolver um trabalho de musicalização infantil. A impressão dessa conversa ficou gravada para sempre e me mostrou um caminho a seguir.

Há quem considere que ensinar música ou disciplinas artísticas não é necessário, que deveria ser considerada uma disciplina complementar e não obrigatória. Mas eu não pretendo entrar nessa discussão, deixo para o amigo a função de ler os incontáveis textos que filósofos e educadores tem escrito desde os tempos de Platão e Aristóteles até hoje. Feito isso tire suas próprias conclusões.

O que me leva a escrever este texto são os métodos usados para ensinar música nas escolas. Que coisas ficaram do meu estudo de matemática? As coisas que eu uso no dia-a-dia. Imagino que para quem não vai fazer da música uma profissão e um estilo de vida o ensino tem que ter uma função prática similar. E a nossa maior prática musical é ouvir música.

A discussão referida no início tratava sobre a inutilidade de mandar toda uma turminha de anjos comprar uma inocente flauta doce. Quando o professor se depara com a turma, quarenta crianças enlouquecidas na pesquisa mais empírica de multifônicos...não há ouvido que agüente! De quê serve esse gasto de dinheiro? (Fica claro para o leitor que eu não tenho uma loja de venda de instrumentos musicais.)

Eu não quero negar o mérito de alguns professores que conseguem tirar leite das pedras e fazem um trabalho interessante. Mas dessas quarenta crianças, dificilmente duas continuem tocando passados dois anos. Algumas só vão lembrar do fato quando fizerem 90 anos...

O interesse pelo estudo de música começa sempre pela audição. Dou aula de música há anos em escolas, conservatórios, oficinas, projetos sociais e nunca vi alguém chegar sem uma mínima idéia de que tipo de música pretende interpretar. Então vamos iniciar o estudo de música ouvindo música, fazendo da audição de música um momento de introspecção, um momento de auto-conhecimento, um momento de descoberta do mundo. Ouvir é reconhecer que o silêncio não existe, é reconhecer fontes sonoras, descobrir que o som é produto de fenômenos acústicos e que depende muito do ambiente onde se propaga.

Adoro escutar música com meu amigo Diogo de Haro, mestre em piano pela UFRGS. Ele aperta o play. Se alguém fala alguma coisa ele aperta pause. A pessoa fala. Ele escuta. Terminado o comentário, ele coloca play de novo. Ele não escuta música enquanto se fala. Tanto a fala quanto a música viram uma coisa supérflua. Isto é algo que os professores de música podiam fazer. Isto seria saudável. A música ficou banalizada quando apareceu o aparelho de som. Posso ter música a toda hora então nunca presto atenção.

Para concluir queria apontar caminhos para esse trabalho de educação musical através da audição. A uns anos atrás assisti apavorado à dificuldade de uma aluna universitária de música (bacharelado em piano) que confundia os timbres do oboé e do clarinete. Era desesperador. Porque se uma pessoa que está estudando em uma universidade não consegue essa ‘façanha’ que podemos esperar do público leigo.

Por outro lado, a uns dias atrás fui visitar minha família. Festa de Natal. Presentes. Minha mãe comprou para minha sobrinha de cinco anos “Pedro e o lobo”, filme de Walt Disney. O filme é uma leitura visual da obra homônima do compositor russo Serguei Prokofiev. Basicamente é um conto de um menino camponês que decide caçar um lobo. O interessante é que cada personagem está associado a um instrumento: o pato é o oboé, o gato é o clarinete, o passarinho é a flauta, o avô é o fagote e assim por diante. Umas poucas horas depois de assistir o filme fui mostrar uma peça para oboé para minha mãe. Minha sobrinha parou no meio da sala e perguntou: “-Que está acontecendo com o pato?”

Marcelo Villena - Músico

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Estréia do blog

Bom... não vou fazer uma abertura muito pomposa. Só quero dizer que a segunda edição do "Música de PoA" está tomando forma. Já temos o dia do primeiro concerto marcado e com o local definido: 28 de maio na sala Luís Cosme (Casa de Cultura Mário Quintana).

Aproveitando o ensejo, uma breve explicação sobre a estrutura do evento. Serão 5 apresentações ao longo do ano, com periodicidade bimestral. As quatro primeiras serão temáticas (por exemplo: música de câmara, música e performance). A última será o evento principal.

Por fim, vou anexar um vídeo de uma peça de Mauricio Kagel, que influenciou profundamente a minha fase atual de composições.