quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Comentário sobre o concerto do dia 23 de dezembro de 2011

Faço aqui um breve comentário do 2º concerto do Música de POA, esse que aconteceu no dia 23/12/2010 lá no Auditório do IA. Como participante do público assíduo a esses e outros concertos de música contemporânea em Porto Alegre, volta e meia me surpreendo com a qualidade a que podem chegar esses eventos, levando-se em consideração que são produzidos quase que de sopetão e juntando as obras capazes de serem montadas (compostas, ensaiadas, revisadas) em poucas semanas. Essa última edição do Música de POA, particularmente, nos veio da forma mais inesperada, quando já ninguém esperava muita coisa do caduco ano de 2010. Vejam (mais abaixo neste blog) que a chamada de obras data do dia 26 de novembro, e creio que não sou o único a se desesperar para conseguir montar alguma peça a tempo. Ainda mais nessa época do ano, com concertos de Natal borbulhando em cada igreja, parque, hospital ou esquina da cidade: com tantos cachês extras, são poucos os que querem tocar de graça uma peça que vai lhes dar horas de estudo e ensaios.
Mas então: como pode ser que o concerto do dia 19 tenha saído tão bem? Em primeiro lugar, temos que fazer jus à sensibilidade da produção na organização do repertório e ao empenho dos intérpretes e compositores envolvidos. Depois, temos que lembrar como foi desastroso o ano de 2010 para a nossa música: não somente minguaram os concertos de música contemporânea (e olha que muitos em 2009 pensavam, junto com o Tiririca: “pior que tá não fica”), mas mesmo instituições consagradas e eternas e esplendorosas como a OSPA apresentaram programações geralmente insípidas, acreditando que para renovar ou refazer seu público o segredo seria apelar para The very Best of Hollywood.
Mas creio que há ainda um outro fator a ser considerado, o qual tem papel fundamental na continuidade do Música de POA ao longo desses anos: trata-se do poder da iniciativa conjunta, do núcleo de artistas formando uma comunidade na qual seus interesses musicais estão simplesmente em primeiro lugar. É isso que confere vida ao ciclo de concertos, jogando ar puro sobre os dogmas da “música clássica”, e nos lembrando que afinal de conta nós fazemos o que fazemos porque gostamos disso, porque é divertido experimentar em conjunto, saber das criações dos outros e conhecer as caras novas que estão surgindo. Acho que é desse ambiente que surgem revelações tão impressionantes como a dupla de violões Nanã Parú-Nativo Hoffmann, que já ultrapassou longe a barreira do vamos-tocar-os-ritmos-e-as-notas, tão comum nas apresentações de música contemporânea, para criarem suas próprias performances, e assim reafirmar o sentido da função do intérprete. Quem lhes agradece por isso é o público em geral, mas principalmente os próprios compositores.

Bruno Milheira Angelo
(compositor)