Duas temáticas difíceis.
Sim.
Trabalhos multidisciplinares são um desafio para os compositores portoalegrenses. Isso devém entre outras coisas da escasa discussão que o curso de música do IA tem com os outros inquilinos do prédio, artes visuais e teatro.
Sei.
Percebi que o prédio da arte dramática fica a duas quadras de distância.
A distância é muito maior do que isso. Semana retrasada comentávamos na aula de análise como seria bom termos um seminário de gestaldt unindo as três áreas. O problema esbarra na falta de participação política dos alunos da música. Não existe centro acadêmico da música. Ponto.
Como juntar as pessoas para esse fim?
Não sei.
Dessa maneira, não há produção para esta temática. Os alunos de composição, como todos os alunos da música, estamos preocupados exclusivamente nas notas. Só.
Soma-se a isso uma porção de contratempos. Muita peça cancelada por problemas técnicos. É necessário correr atrás: "o show deve continuar".
"O Filho do faroleiro" teve uma proposta interessante. Um vídeo com imagens de uma praia e um farol. Duas pessoas nesse ambiente. Isso como imagem para o relato de um trovador que intercala fala e ilustração musical através de uma viola caipira. Proposta simples e muito eficiente. O fato do relato não ser comentado pelo vídeo, de serem duas coisas que se encontram na imaginação funcionou muito bem. Por outro lado, problemas pessoais impediram a declamadora de se apresentar. Fernando Mattos se escusou: "Eu sou um quebra-galho". Para mim cumpriu satisfatóriamente sua função. Se alguém não gostou quero ressaltar a coragem do cidadão.
"Siglas" teve sua segunda apresentação (a primeira foi na Mostra de Música Contemporânea). A peça é escrita para 8 vozes. Foi adaptada para quatro. Houve um desdobramento dos cantores para preencher as funções. A preocupação que tivemos foi dar a esta segunda apresentação uma leitura mais performática. A peça pode crescer trabalhando melhor as sonoridades dos fonemas, percebendo melhor os "momentos" que a compõem e aproveitando a energia particular de cada um deles. A ajuda de um diretor teatral seria muito saudável. Pena que Martinêz (o autor) não pode comparecer. Encontrei com ele no IA ontem e concordou com a intervenção da cantora lírica maluca que não consta na partitura.
"Quadros" contém os riscos usuais de um improviso coletivo. Três situações predeterminadas: movimentos lineares, drama e imobilidade. Isto como roteiro cênico. A música sublinha ou altera a cena. Acredito que os conceitos sobre os quais trabalhamos um improviso devem ser retrabalhados. É um desperdiço esgotar as possibilidades numa só apresentação. A integração dos componentes pode ser muito mais intensa.
"Sonho desperto" foi a meu ver o que melhor funcionou na noite. Trabalho integrado em que uma artista visual e um músico criaram juntos um discurso poético. Integração vídeo/eletroacústica. Integração dos dois autores no palco. Tudo teve um sentido. Tudo foi bem trabalhado. O final em "retrogradação" (vejamos bem: a retrogradação do vídeo) foi previsível...Ler os textos ao contrário no início e colocá-los na sua forma 'compreensível' no fim funciona.
Quem sabe é isso? Falarmos de uma vez por todas honestamente sobre nossas percepções
para gerarmos reflexões nos criadores.
Eu sou mais um na plateia.
E um último recado a nós compositores: temos a responsabilidade de formar nosso público. Devemos dar um salto de qualidade. Só conseguiremos isso com planejamento e disciplina.
Marcelo Villena
sábado, 24 de outubro de 2009
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