Ontem foi realizado o segundo concerto do projeto neste ano. Um concerto que marcou por dois motivos: nunca tivemos uma presença tão forte de professores no palco e por primeira vez recebemos uma música para apresentar que não saiu das mãos de uma pessoa que estudou no IA...ou melhor, de alguém que não é do círculo de conhecidos.
A presença em peso dos professores foi na primeira parte, dedicada a improviso. Eles fecharam essa sessão com Caminhos Cruzados I , II e III, cada parte centrada num instrumentista, mas com prováveis intervenções dos outros dois. Começou com Fernando Mattos apresentando a novidade de um violão de 10 cordas afinadas por ¼ de tom. Ele foi também o fio condutor do improviso coletivo em 3 partes. Num determinado ponto (a partir de uma consigna musical) Luciane Cuervo entrou com a flauta doce no improviso, tocando desde a platéia superior do Tasso Correa. Surpreendeu não só por tocar fora do palco, senão pela qualidade da estreia: ela nunca tinha improvisado com público. E finalmente, o último a entrar na conversa foi Felipe Adami que levou o improviso para outras regiões, pois a entrada do piano (depois de violão e flauta doce) e o uso rico que fez dele não podia deixar a música no mesmo plano. O ponto de destaque foi o equilíbrio conseguido entre instrumentos de potência tão desigual. O importante é ver como um improviso pode ser planejado pelos participantes até cenicamente e não por isso perder a espontaneidade.
Antes deles foi a vez da Cuca Medina e o Duo Hoffparu. Alquimia que deu certo. Quando conhecemos as pessoas já sabemos: isso vai funcionar. O duo HoffParu vem trabalhando metodicamente, levando a sério o improviso livre. Eles tocam até em kermese de bairro se forem convidados! Estão se destacando por ter o trabalho de pesquisa mais profunda nesse campo no RS hoje. A Cuca Medina entrou na sonoridade deles como ela sabe fazer: inserindo sua assinatura. O timbre da voz se misturou aos instrumentos...mas ouvimos sempre a personalidade da Cuca. Esta combinação vai dar ouro!
O primeiro improviso ficou a cargo de Alexandre Fritzen da Rocha e Felipe Faraco. Pelo que eu sei, eles improvisam há pouco tempo juntos. Surpreende a integração tão bem acabada em tão pouco tempo de vivência. Acabada em termos de unidade expressiva: improviso de curta duração mas contundente. E aí eu vou falar o que eu penso: não é necessário tanto tempo assim para improvisar. Rara vez um improviso de mais de 10 min é interessante. Como no caso de uma composição, tem que ter argumentos para manter o público atento. Quando subo no palco para improvisar penso: “Não estou fazendo uma introspecção mística. O público está aí. Como eles vão receber?” O improviso de Alexandre e Faraco foi em direção ao público.
Na parte eletroacústica teve o “Estudo de Túneis" de Ricardo Eizirik. Peça que teve sua segunda apresentação pública e foi modificada. A modificação foi significativa e a meu ver deu nova vida.
Depois veio “Britney meet Berio and Babbit” de André Capaverde. André não estudou composição no IA. Antes dele só tivemos outro participante dessas características, Guilherme Darisbo. Mas a diferença é que este é conhecido por uma trajetória no Coletivo Antena e pelos trabalhos de improviso livre...neste caso ninguém conhecia o André. O título prometia uma peça irreverente e foi isso o que se ouviu: bom humor, drama e imaginação. Esperamos mais peças dele.
Minha peça “Punctum” teve problemas na espacialização e ficou descaracterizada. Deveremos esperar uma nova oportunidade...que não são tantas.
“The Lord of the Sewer” de Rodrigo Meine foi tocada por segunda vez. Foi também minha segunda audição da peça. Como é bom ouvir mais de uma vez uma peça. Na primeira audição eu devia estar desatento e não consegui desfrutar como ontem.
E no fim do concerto foram apresentadas por primeira vez no nosso projeto peças mistas. “Areia ao vento” para viola e eletrônica mostra a versatilidade e a experiência de Martinêz Nunes como compositor e como conhecedor profundo do seu instrumento. Vale a pena conferir a técnica de tocar cordas duplas com harmônicos enquanto um dedo que não está sendo usado na mão esquerda faz pizzicato. Se já foi usado por outros compositores minha ignorância seja desculpada...mas estes concertos nos possibilitam ter acesso a novas informações e invenções. Foi oportuno também ouvir a Claudine Abreu como solista, esperamos tê-la presente mais vezes com todo sua qualidade e seu amor pela nova música.
O encerramento foi, como não podia ser de outra maneira, com o peso-pesado: Ulises Ferretti, compositor consagrado no Uruguai, aluno de doutorado de Antônio Carlos Borges Cunha e curriculum que inclui participação em trilhas sonoras de um filme italiano. Ulises tem uma poética personalíssima de um raro refinamento. É uma honra podermos mostrar obras de autores com um trabalho tão maduro. A interpretação de Cibele Endres Pereira seguiu os conselhos dele: “A música deve ressoar na platéia e voltar para o intérprete”. Os mais velhos, como sempre, nos mostrando o Tao.
Agradecemos a Stênio, Rodrigo Meine, Rodrigo Avellar, Ricardo Herdt, Ricardo Eizirik, Prof. Elói Fritsch, Prof. Luciano Zanatta, aos compositores, aos improvisadores, aos intérpretes, aos porteiros do IA, à coordenação do Tasso Correa e ao público presente.
Marcelo Villena – membro da comissão organizadora.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário